quarta-feira, 28 de julho de 2010

Palavras desconexas 8


Daqui até ali deve ter menos do que daí até o lado de lá. Mas a teimosia é perda de tempo. Devemos começar de novo. Vamos juntos contar, um, dois, três, quatro e cinco. Pronto. Agora está certo?

Quanta sofreguidão e quanto ar. Que loucura e que marasmo. Este barulho e esta quietude. Aquela luz e outra vez a escuridão. O tudo e outra vez o tudo. O nada e depois a curva do decréscimo.

Parta ligeiro e olhe para a direção oposta a qual se dirige. Esqueça a coerência e depois torne a ser prudente. Ria o riso do contentamento. Desgoste de ninguém e abrace alguém. Seja próspero e diligente.

Ouse a subir, esqueça as vozes dissonantes, elas não sabem o que dizem nem para elas próprias. Há quanto tempo existe este som? Acredito que não seja possível determinar nem o início nem o término daquilo que nem se quer se compreende.

Pergunte aos homens abastados e os responda com a sabedoria dos simples. Deguste mais um pouco. Franzir o cenho ou determinar um cardápio não tem nada de tão grande. Haverá sempre algo para fazer, nem que seja lutar pelo sonho, que a de vir sobre todos, para assombrar os que dormem.

Resta nos compreender a sabedoria através da mediocridade. Questione ou deplore. Produza neologismo ou apenas cale-se, curve os ombros, cole a cabeça junto ao peito e saía sem rumo ou destino.

Ouça outros sons, eles não podem ser tão ruins, pense e repense, as coisas poderiam ser piores ou ainda serem mais azedas, daquelas que fazem a sua expressão se contorcer sem saber o porquê isso se faz.

Diga aos sussurros ou aos berros. Seja paciente ou vá ao encontro das confusões. Seja o autor, ator, cúmplice ou simplesmente a testemunha que se escafede na hora de ser chamada para dar seus testemunhos.

Dirija por lugares inóspitos e contemple a beleza dos lugares agradáveis, que assim são mais ao coração do que aos olhos, não seja treinado para conveniência. Rompa com o absoluto, sempre pondere e opte. Ao relativo brindamos agora e entornemos esta caneca imaginária cheia de amor, ódio, alegria, feiura ou de silêncio. Quem se importa?

Alguém morreu ouço ao longe o som do sino. Cubram-se as mulheres. Assumam os homens posições de pesar. Leve o chapéu ao peito e digas que sente, mesmo que nada haja para sentir. Deixe de ser rebelde e cumpra o protocolo.

Ensaie uma poesia e diga a baixinha. Faça uma prece, combine amor com dor, saudade com vaidade, perda com soberba. Antagonize o céu e o inferno. Vá ao encontro dos que choram e com ele derrame lágrimas e após ajudar a descer aquele que não vive mais, à sua eterna morada, vá para uma festa e se embriague da vida.

Na volta, na madrugada fria dos teus dias, quando uma simples folha da árvore te causar espanto, sobressalte e sinta que a chance jamais passou. Ela simplesmente te acompanhou e agora flerta contigo outra vez. Levante-se, o chão é por um momento, agora é hora de seguir viagem.

Suba nesta carruagem e parta outra vez. Sacoleje. Abrace o desconhecido e agradeça os céus. De repente, se aportar em um lugar desagradável não temas. Vire as costas e prossiga. Assobie uma música gospel e sinta-se perto de Deus.

Entoe um mantra. Lembre-se de uma velha canção sertaneja e pense nos teus pais, nos teus irmãos, na antiga namorada e na estrada de terra do sítio da infância. Pense nas pessoas que lhes foram caras e suspire entediado. A volta é penosa e não trará glórias, mas pelo menos haverá menos dor do que a partida para um desprezo sombrio e vil de vilas que nunca lhes serão familiares.

Procure um abrigo. Caía de joelhos, junte as mãos e reze um pai nosso. Medite nestas palavras milenares deixadas pelo messias, que só bondade semeou e que por suas virtudes hoje podemos ter luz nesta estrada escura e traiçoeira chamada destino.

Devagar se deite. As luzes não se apagaram, por isso feche os olhos e sonhe outra vez com o canto dos pássaros, com o banho nos rios, com o futebol no campinho de areia e com amigos que há tempos sumiram na capoeira da vida. Em poucos minutos os sons serão confusos, as imagens meros borrões e a sua consciência vai diminuir, o que se seguir será mero capricho sem importância para o fim da tua pobre jornada.

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