sábado, 10 de julho de 2010

Outra vez somos únicos

A água é a essência,
Se assim quiseres postular,
Entretanto, isso não se tornará uma convenção,
Mas utilizaremos no momento,
Por algum tempo navegaremos no teu barco,
O dia se transformou em noite fechada,
As águas estão tranquilas,
O céu, totalmente limpo, apresenta suas estrelas,
A lua está perfeitamente redonda e iluminada,
O mar calmo nos incentiva e continuamos.

Buscamos as essências mais ricas,
Queremos nos embriagar,
Cansar e se misturar,
O riso é fácil e tudo é permitido,
Mas não há convidados neste peixe de aço,
Seguimos eu e você,
O seu pensamento segue perdido,
Mas os seus gestos são eloquentes,
E rapidamente estamos nos reconhecendo,
As palavras são pobres para descrever o que se segue.

Para nos perfumarmos com o toque das flores,
Você toma conta da situação,
E aos poucos os cheiros se misturam,
Somos um e a cada vez mais queremos assim estar,
O ar agradável e salgado do mar dão o tom,
Como músicos experientes acompanhamos a partitura,
Ouvimos sons que não existem no mundo real,
Eles estão em nossas mentes e martelam nossos crânios,
Executamos com maestria os pedidos da alma,
Explodimos e nos reinventamos, somos anjos outra vez.

Com o aroma das especiarias,
Sonhamos, estamos à procura do diferente,
O novo atrai e nos deixa livre para seguir com o velho,
Nem importam muito quais são seus aspectos,
Nem as suas finalidades ou suas propriedades curativas,
Queremos outra vez o silêncio calmo,
Daqueles que não pesam,
Além disso, desejamos uma quietude que acalenta,
Ante ao desconhecido nos aproximamos,
Adormecemos, sonhamos e permanecemos abraçados.

Mas no final do dia precisamos mesmo de água,
Não da salgada, mas da doce,
Carinhosamente nos auxiliamos e logo estamos asseados,
Deixamos de contar as horas,
O tempo não importa,
Registramos nossas impressões,
Conversaremos banalidades,
O rosto expressa alegria,
E a liberdade sentida é imensa,
Estamos a sorrir com gracejos sobre a eternidade.

Aquilo que nos refresca e nos alivia,
É a falta de obstáculos,
O mundo está suspenso nas leis superiores,
Pensamos e concluímos que sempre nos pertencemos,
As madrugadas foram livres pontos de encontros,
O local da alcova é o mesmo desde sempre, os sonhos,
Poderíamos ter passados ao longe,
Mas você estava ali e eu passando te vi,
À hora em que meus olhos teus contornos reconheceu,
Passei a frequentar as tuas lembranças e tudo se sucedeu.

Buscamos a essência das pessoas,
Às vezes encontramos, outras vezes não,
Ansiamos pelo sorriso, pelo abraço e pelo respeito,
Queremos ter orgulho de as conhecermos,
De sermos seus amigos, seus amantes ou seus amores,
Somos exigentes, queremos sempre mais,
Até o dia em que percebemos que às vezes também nos escondemos,
Que a nossa essência nem sempre é demonstrada,
E ai passamos a ser coerentes,
Sorrimos e aceitamos bem menos.

Das pessoas que amamos,
Tiramos nossas razões, condutas e energias,
Sem elas tudo deixaria de fazer sentido,
Ansiamos por elas,
Queremos suas atenções,
Desejamos que o tempo parasse a si próprio,
E que nunca houvesse separação,
Sentimos desgosto quando não somos correspondidos,
E igualmente desamparados,
Quando somos tratados como opção.

Das pessoas que admiramos,
Usamos as coisas que nos levaram a admirá-las,
Como suas teorias, suas frases e os seus sucessos,
Queremos em algum momento sermos iguais a elas,
Sem que isso resulte em algum sentimento nefasto,
Pelo contrário, há quase uma gratidão,
Há desejo de compartilhar algo,
Se a admiração for entre homem e mulher há peculiaridades,
O admirador quer saber muito e o admirado, se quiser, pode falar,
Desde a ida a manicure até os detalhes de uma boa viagem.

Das pessoas que odiamos,
Nada poderá vir de bom,
Por isso transforme o ódio em amor,
Esqueça das palavras ásperas,
Dos motivos ensejadores do ódio,
Que não verdade não corroboram este sentimento venenoso,
Apenas servem para acalmar seu lado bondoso, ante ao perverso,
Seja um propagandista de paz,
Ganhe tempo, e reate os velhos amores,
Ainda que para isso tenha que amar pelos dois.

E as decepções que sentimos buscamos afogar,
No sentido figurado ou literal,
Em copos de cachaça, em igrejas ou nos braços de outros amores,
De maneira legal ou boçal,
Com pensamentos sérios ou tolos,
Os resultados poderão ser parcial ou cabal,
Mas, acredito que seja hediondo afogar,
Prefiro em vez de afogar decepções,
Guardar as lembranças do tempo em que deu certo,
E quem sabe no futuro reatar e outra vez amar o que se amou.

Buscamos algo um no outro,
Que pode ser muito mais plural que você imagina,
Bem ou mal, segue-se a reflexão,
Blindados pela distância e pela falta de convivência diária,
Sem saber endereço, número de telefone e manias,
Ambos sobreviverão sem maiores problemas,
Mas a vida às vezes retira as grades,
Destrói cercas ou divisões e coloca os amantes lado a lado,
E a oportunidade sempre vai testar alguns limites,
Que por vezes são tênues ou que nem existem de verdade.

Sem saber que, sendo um água e o outro a própria essência,
Somos iguais, uma operação matemática de adição, onde a ordem dos fatores nada altera,
Eu te procuro e você me deseja,
Por motivos iguais ou desconhecidos,
Isso são detalhes,
Não precisamos saber os porquês,
Pois a busca destes nos conduziria a insanidade,
Acredito que é bem mais interessante o sorriso ingênuo,
Em vez da expressão distorcida por suposições,
Prefiro flertar com o seu coração, do que a enfrentar a razão da sua mente.

Vamos nos diluir, imergir, ser um só.
Este é o epílogo,
O fechar das cortinas,
O apagar das luzes,
Mas também é o belo,
Pois te conduzo para aonde eu for,
E vou aonde você desejar,
Nada mais importa,
Se sou todo ou parte,
Outra vez somos únicos.

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